segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Samurai e o Tolo


Numa tarde serena, quase se pondo o sol... deslizava entre ilhas uma barcaça com vários passageiros... entre os quais um bushi (samurai) japonês, famoso na arte de desembainhar o sabre (Iaidô). No meio de todos, um jovem descortinou-o, e ansiando por fama dirigiu a palavra ao mestre, rapidamente juntando tons de desafio. Sereno, o bushi resistiu à tola verborreia, à insenta e vaidosa fanfarronice do neófito. Porém, a insistência e zomberia do destemperado rapazola, ajudado por gestos, acabou por perturbar a a população da embarcação, de modos que o samurai acabou por aceitar o desafio.
Porém impôs uma exigência... a de que o duelo não poderia ser alí na barcaça, não apenas por falta de espaço mas também pelo perigo que poderia resultar para a integridade física dos outros passageiros. Sugeriu uma insula alí perto. O atrevido aprendiz de sabre aceitou e, logo que o barco tocou as ervas e limos da pequena ilha saltou para a mesma preparando-se para desembainhar a arma.
O samurai ajudou-o na tarefa com um certo empurraozinho e, logo que o sentiu com os pés em terra impulsionou a embarcação no sentindo contrário, continuando dentro da mesma.
O jovem incauto ficou sozinho na insula, esbracejando, combatendo com o vento, sozinho, como o verdadeiro tolo que era.
E o samurai continuou a viagem, com o sabre embainhado, como é próprio da mestria na arte do Iaidô.

2 comentários:

  1. A inteligência revela-se em pequenos grandes actos inesperados.

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  2. Olá amigo do.......
    Parabéns pelo blog, adorei a história e a lição nela contida, fico a aguardar por mais, e lições sobr o chá também.Como presente de boas vindas deixo-te as palavras de um escritor que adoro. Fica bem.

    POEMA DA DESPEDIDA
    [Mia Couto]

    Não saberei nunca
    dizer adeus

    Afinal,
    só os mortos sabem morrer

    Resta ainda tudo,
    só nós não podemos ser

    Talvez o amor,
    neste tempo,
    seja ainda cedo

    Não é este sossego
    que eu queria,
    este exílio de tudo,
    esta solidão de todos

    Agora
    não resta de mim
    o que seja meu
    e quando tento
    o magro invento de um sonho
    todo o inferno me vem à boca

    Nenhuma palavra
    alcança o mundo, eu sei
    Ainda assim,
    escrevo.

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