Costumo dizer que Sadô é uma arte de aprender a perder tempo... Tal como na maioria das artes nipónicas, a pressa não faz sentido, até porque se manifesta inimiga do sentimento. Os ocidentais, consumidores de chá numa vertente diferente, de marcação social e afirmação luxuosa, dificilmente entenderão a humildade e sobretudo o silêncio duma sessão de Cha-no-Yu. Quando digo silêncio, não me refiro à completa ausência de sons, sendo até que a percepção da sonoridade envolvente se revela como uma das delícias proporcionadas pela cerimónia, mas à ausência de conversas "importantes", como a discussão política ou social. Em Cha-no-Yu aprecia-se o som da água, quase fervente, e do manuseamento cerimonial dos utensílios presentes... bem como a melodia distante do tempo e das pessoas, aparentemente afastadas de nós. Com a calma que praticamos na arte, esperamos por elas, mantendo a água pura e quente... a chawan seca... e o macha (mátchá) bem verde... esperando a diluição da longínqua agitação urbana na espuma da meia-lua que oferecemos.
Gasshô.
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