sexta-feira, 13 de abril de 2012

O Nirvana do Iluminado

Por Vaisali, com 80 anos, Buda andou ainda de porta em porta, esmolando. Depois tomou o caminho de Kusinara, pela orla dum bosque de mangueiras. E chegando à beira dum poço donde uma mulher «intocável» tirava água, pediu-lhe de beber. Recuando espavorida, a mulher exclamou: «Senhor, não vos aproximeis, que sou impura!» Então Buda, imperativo mas com doçura, ordenou:
«Aproxima-te e dá-me de beber. Eu não te perguntei quem tu eras, nem quem era teu pai, nem quem era tua mãe. Pedi-te de beber, porque és minha irmã e eu tenho sede.»
Então pediu que lhe fosse preparado um leito no chão, entre duas árvores. Sobre esse leito de folhagem caíam as flores das salas. E o ribeiro corria no seu leito de calhaus. Como a noite era quente e de luar, alguns aldeões vieram assistir ao Mestre. E o seu espírito cessando de existir, o Perfeito, príncipe dos Sakyas, o Iluminado, entrou no Nirvana.
E junto às portas da cidade, a gente de Kusinara elevou uma pira e sobre ela queimou o seu corpo. (Mahaparinibana-Sutra, texto pali).

A Anona

Tem mil e quarenta e cinco
                              caroços
cada um com uma circunferência
                               à volta
agrupando-se todos
                              (arrumadinha)
no pequeno útero verde
                                    da casa

luanda, 84   Paula Tavares

A Luz Infinita

De onde a onde alcança
esta luz da Verdade?

Se nada a intercepta
esta luz original
propaga-se em todas as direcções, sem limites.

Mas construímos espessas paredes,
impedimos a sua entrada,
fechados em tocas privadas,
alimentando o vício do ego
a palavra «Buda», uma mácula em não-mente.

Ao sermos apenas não-mente
no verdadeiro vazio,
a vida da infinita luz da Verdade
a inocente natureza da não-mente, não-ego,
amor sem limites da sinfonia-ecocósmica
cumprem-se naturalmente Aqui-Agora
neste encontro.

É isto.

Hôgen Daidô

terça-feira, 3 de abril de 2012

CADA PARTÍCULA

CADA PARTÍCULA elementar contém todo
o universo,
Cada instante compreende vida única e infinita.

Um a um,
Buda a Buda,
o insondável mistério desta existência,
A nascente das nascentes.

O universo não é vasto, eu não sou ínfimo,
Mas que diabo faço eu aqui?!
Invisível abismo pelo qual
posso, a cada instante, regressar ao céu,
à terra, ao inferno, ou a casa!

O que sou eu?!
Sou aquilo que encontro,
Encontramo-nos agora mesmo - tu és o universo.

Neste último Aqui-Agora, um com o todo,
Vivemos (morrendo)
com o original bater do coração da infinidade.

Hôgen Daidô